Educação se Aprende na Escola
(Homenagem a José Francisco de Almeida Pacheco)
Em meio a tantas pesquisas na área da educação, deparo-me com uma reflexão que mudaria completamente minhas perspectivas. Quando falamos sobre melhores condições no ensino público, reivindica-se, de imediato, a melhoria dos sistemas, como maiores salários aos professores, carga horária elevada aos estudantes ou rigidez do plano de ensino. Todavia, quando se trata da formação de jovens, cujas realidades apresentam-se distintas de um modelo social ideal, nenhuma política pública comprova-se realmente eficaz, expondo, assim, a concepção a qual remete José Pacheco : é preciso desconstruir para construir.
Mestre em Ciência da Educação pela Universidade de Portugal, José Pacheco pode ser considerado um dos inovadores na área de ensino. Idealizador do Projeto Escola de Ponte, a escola portuguesa estrutura-se num plano educacional fora dos padrões de ensino, com aulas ministradas sem regularidade de horários e conteúdos, visando uma metodologia baseada na práxis dos valores sociais. Sob esse viés, mais do que matemática e geografia, os alunos aprendem sobre ética e como podem, através dos conhecimentos teóricos, colaborar para o desenvolvimento do coletivo.
Pacheco conta-nos sua trajetória por meio de experiências como professor. Quando ministrava aulas para menores delinquentes, o educador pergunta-lhes de forma simplista - ‘’o que querem ver?’’ ; inicialmente atordoados, os meninos respondem que gostariam de ter de volta os passarinhos que deixaram para trás ao saírem do reformatório. Ele, então, esclarece-os dizendo que para recuperar os passarinhos seria preciso aprender como construir um viveiro, assim como o habitat natural de suas espécies e sua reprodução, visto que esses mesmos passarinhos deveriam se adaptar ao novo ambiente... E assim foi feito.
No que concerne o método educacional, fato é que padronizar o conhecimento sem a análise de sua aplicação, corrobora a alienação de todo um grupo social. Diante da tamanha desigualdade social vivida no Brasil, assim como os pássaros necessitaram de uma nova estrutura para sobreviver, hoje as escolas revelam-se destituídas de um sistema adaptativo - como poderiam ter interesse crianças de origens carentes de estruturas básicas de cidadania?. Destarte, mister se faz construir um novo ‘’viveiro’’, que aproxime o conhecimento as realidades sociais.
Outrossim, ao analisar a própria estrutura escolar percebe-se que tais realidades apresentam-se dissonantes do sistema educacional, revelando uma educação desvirtuada dos valores sociais. A delimitação de espaços para alunos e professores, por exemplo, retrata uma cultura segregacionista, pois muito embora se vise construir um conceito disciplinante aos alunos, na prática a autoridade do educador transforma-se em autoritarismo, distanciando, - por conseguinte - a relação cooperativa entre ambos.
Consoante José Pacheco, ‘‘ a educação é aquela que possibilita o compartilho da informação, tornando-se reconhecível e memorável ao olhar de cada estudante’’. Posto isso, mais do que salários , mister é a análise do método de ensino, ainda muito precário no tocante a formação cultural e social dos estudantes. Fala-se, portanto, de uma doutrina educacional, que visa descontruir o processo alienante e ‘’distante’ das escolas, construindo uma nova geração de cidadãos, preocupados com questões sociais que certamente aprenderam na escola.